Inteligência artificial para o diagnóstico oportuno de doenças tropicais
As mudanças climáticas têm um impacto cada vez maior na saúde das pessoas que moram em áreas tropicais e subtropicais em todo o mundo e podem exacerbar de várias formas a transmissão de doenças.
A maioria da população mundial é suscetível a doenças infecciosas, cujos ciclos de vida são sensíveis a fatores ambientais.
Praticamente todas as doenças tropicais pertencem a esta categoria.
Isto significa que a modificação humana dos ecossistemas e as mudanças climáticas afetariam os futuros padrões geográficos de transmissão de muitas destas infecções.
A prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais para salvar vidas humanas.
Ameaça global
Doenças tropicais como a leishmaniose cutânea representam um desafio global que afeta a população pobre dos países em desenvolvimento de modo desproporcional.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a leishmaniose cutânea é a sétima doença tropical mais relevante, declarada ameaça à saúde pública por 89 países, 19 dos quais estão na América Latina e no Caribe.
Seu diagnóstico tem como base contextos clínicos e epidemiológicos, com a necessidade de biópsia ou raspagem, o que complica e atrasa a confirmação.
Distância e barreiras
Embora o tratamento esteja disponível, os profissionais de saúde precisam de ajuda para o diagnóstico, seja por falta de experiência ou de conhecimento sobre a doença.
Distâncias geográficas, restrições financeiras, barreiras culturais, escassez de profissionais de saúde e infraestrutura precária dificultam ainda mais o diagnóstico da leishmaniose.
Do total de 89 países que registraram a doença, 9 concentram 85% das infecções. Três deles estão nas Américas: Brasil, Colômbia e Peru.
A alta incidência no norte do Brasil é impulsionada pelo desmatamento, as atividades extrativistas e a falta do planejamento urbano, principalmente em comunidades remotas e de baixa renda.
IA no resgate
Técnicas preditivas de análise de imagens médicas via inteligência artificial (IA) baseadas em deep learning e machine learning evoluíram rapidamente nos últimos anos.
Considerando que o diagnóstico de doenças cutâneas sintomáticas se baseia principalmente na maneira pela qual as lesões se formam, esta área é considerada promissora para as técnicas de análise de imagens com IA.
A aplicação da IA no diagnóstico por imagem permite que avaliações precisas sejam realizadas automaticamente.
Esta automação reduz a carga de trabalho da equipe médica, diminui erros e tempos de espera e melhora o desempenho na previsão e detecção de diversas doenças.
Tanto o deep learning quanto o machine learning já são usados para diagnosticar doenças, descobrir medicamentos e identificar os fatores de risco dos pacientes.
Inovação e evidência
Em 2023, o Grupo BID lançou o Amazônia Sempre, um programa holístico e abrangente que visa catalisar o financiamento, compartilhar conhecimento estratégico para os tomadores de decisão e melhorar a coordenação regional com o intuito de acelerar o desenvolvimento sustentável, inclusivo e resiliente da região amazônica.
O programa também busca compartilhar conhecimento e inovações baseadas em evidências, alavancar conhecimentos para apoiar o desenvolvimento de políticas e melhorar a colaboração e coordenação regionais.
No âmbito desta iniciativa, o BID Invest trabalha com o setor privado para apoiar iniciativas verdes e sociais na Amazônia.
Com financiamento do Ministério da Economia, Comércio e Empresas da Espanha, o BID Invest apoia o Hospital Albert Einstein e a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas no desenvolvimento de um aplicativo baseado em IA.
Este aplicativo usa a câmera do smartphone para o diagnóstico precoce da leishmaniose cutânea e outras doenças tropicais com alta incidência na bacia amazônica.
Gratuito e off-line
O aplicativo deverá ser disponibilizado gratuitamente aos profissionais de saúde em uma versão que permite o acesso off-line, possibilitando seu uso em locais nos quais a conexão é difícil.
O diagnóstico precoce pode representar um tratamento melhor para as 15 milhões de pessoas que, segundo as estimativas, são infectadas anualmente no todo o mundo. Só no Norte do Brasil, a incidência é de 46,4 casos por 100 mil habitantes.
Isso pode contribuir para a redução dos custos da saúde e das hospitalizações e para a prevenção de manifestações patológicas graves, como as lesões desfigurantes.
Uma vez implantada, com o apoio dos sistemas nacionais de saúde, essa tecnologia também apoiará a tomada de decisões precisas dos profissionais de saúde no tratamento, gerando um impacto positivo na saúde das comunidades locais ao ajudar a salvar vidas.
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